Como o Brasil virou 5º maior mercado de apostas

Em poucos anos, as apostas online passaram de algo pouco conhecido a uma realidade constante no dia a dia do brasileiro. Esse crescimento acelerado não é por acaso: estratégias de marketing e a digitalização dos pagamentos estão entre os principais fatores que explicam a ascensão desse mercado no país.

Segundo dados obtidos pela BBC News Brasil com a consultoria internacional Regulus Partners, especializada em esportes e lazer, as empresas de apostas online devem faturar cerca de US$ 4,1 bilhões (aproximadamente R$ 22 bilhões) no Brasil em 2025. Isso coloca o país como o quinto maior mercado de apostas do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Reino Unido, Itália e Rússia.

Para se ter uma ideia, o mercado norte-americano lidera com US$ 17,3 bilhões, enquanto o Brasil, que ainda não figurava nessa lista até 2024, deve alcançar receitas líquidas de US$ 4,1 bilhões — um salto gigante, considerando que em 2014 o setor no país era estimado em apenas US$ 300 milhões.

A combinação de fatores por trás do crescimento

O impulso maior, segundo especialistas, veio durante os lockdowns da pandemia, quando o tempo em casa e a busca por entretenimento digital aumentaram significativamente. Mas outros elementos também foram decisivos:

• A histórica proibição de jogos de azar criou uma demanda reprimida.

• O brasileiro tem facilidade para adotar novas tecnologias e consumir serviços digitais.

• O longo intervalo entre a legalização (2018) e a regulamentação (2024) permitiu que as empresas operassem quase sem restrições.

• Estratégias de marketing agressivas e eficazes consolidaram a presença das marcas.

• Sistemas de pagamento instantâneo, como o Pix, tornaram a experiência mais prática e segura.

O economista Victo Silva compara o período sem regulamentação a um “laboratório da economia comportamental”. Os sites de apostas foram cuidadosamente desenhados para oferecer uma experiência mais lúdica e intuitiva que a lotérica tradicional: bônus, alertas, “missões” e mini-cassinos digitais tornam o processo de apostar simples e atraente, direto na tela do celular.

O Pix, lançado em 2021, também contribuiu para esse ambiente, permitindo depósitos instantâneos e sem burocracia. Diferente de outros países da América Latina, como Colômbia e México, onde há etapas offline no processo de aposta, no Brasil tudo acontece de forma rápida e digital, facilitando a expansão do mercado.

Futebol e publicidade: os grandes aliados das apostas

O futebol é outro motor do crescimento. Entre os 20 clubes da Série A, 18 exibem marcas de apostas em seus uniformes. Os cinco maiores contratos de patrocínio somam mais de meio bilhão de reais, com destaque para o Flamengo (Betano, R$ 220 milhões), São Paulo (Superbet, R$ 113 milhões) e Corinthians (Esportes da Sorte, R$ 103 milhões).

Essa presença massiva ajuda a “normalizar” a prática de apostar, tornando-a parte da rotina dos torcedores, que agora não apenas assistem aos jogos, mas também fazem palpites sobre resultados, saldo de gols e cartões aplicados.

Entre riscos e regulamentação

Apesar do sucesso do setor, especialistas alertam para os riscos associados ao consumo desenfreado. Silva compara as apostas online a produtos “tentadores”, como o cigarro, que precisam de políticas públicas para evitar impactos negativos na renda familiar e na sociedade.

O Brasil já tomou medidas preventivas, como restringir o uso do Pix para famílias beneficiárias de programas assistenciais, e existe um projeto de lei em tramitação que propõe regras mais rigorosas para a publicidade voltada ao público jovem.

No entanto, representantes do setor defendem que anúncios controlados ajudam a direcionar apostadores para empresas legais e regulamentadas, afastando-os do mercado ilegal, onde não há proteção contra fraudes ou lavagem de dinheiro.